Saturday Night - A História do SNL

Autor: Lucas Pereira

Publicado em: 02/06/2025

Categorias: #crítica #cinema #filme-brasileiro #filme-nacional

Jason Reitman é um diretor que compreende o peso do ritmo. Em Obrigado por Fumar, ele soube conduzir o cinismo com graça. Em Juno, seu talento se tornou um destaque por apresentar a leveza do inusitado.  Agora, em Saturday Night, ele tenta algo mais volátil: capturar o caos. O caos real, não roteirizado. O caos de uma sala de escritores, de um elenco pressionado, de uma contagem regressiva implacável para o ao vivo em um programa feito por pessoas que nunca trabalharam na TV, fazendo um formato que nunca havia sido feito. E como o próprio Reitman afirmou, isso não é uma comédia – ao menos, não no molde tradicional.

O filme é ambientado nos 90 minutos finais antes da estreia do Saturday Night Live, o programa de esquetes que redefiniu o humor nos Estados Unidos. Mas este não é um “filme sobre televisão” no sentido convencional. Não há vilões engravatados ou uma jornada linear rumo à superação. O antagonista é o tempo. E Reitman o trata como tal, com urgência e um senso de vertigem que se aproxima da claustrofobia.

Em relação aos aspectos técnicos, vejo que a decisão de filmar em 16mm é especialmente inspirada. Ela não apenas evoca a estética dos bastidores setentistas, mas oferece textura. Literalmente. A granulação, a resolução de um filme “menor”, a luz tênue filtrada por lentes antigas, valoriza a contribuição que os figurinos e todo o design de produção trazem para a criação de uma atmosfera interessante – tudo isso dá ao filme o peso do real. Como se estivéssemos assistindo a um documentário secreto sobre a gênese de um momento inovador da TV.

Reitman também teve o bom senso de manter o elenco em um único espaço coletivo durante as filmagens, rejeitando a compartimentalização fria dos trailers individuais. Há, nas cenas, um senso palpável de convivência, de tensão coletiva. A câmera, por vezes, parece flutuar entre os personagens como mais um membro da equipe – observadora, cúmplice, nervosa.

Mas o caos não é fácil de controlar. E é aqui que o filme tropeça. Há momentos em que a desordem deixa de ser narrativa e se torna estrutural. Sem uma âncora clara, o espectador corre o risco de se perder entre nomes, esquetes e fragmentos. Há uma diferença sutil – mas crucial – entre parecer desorganizado e estar, de fato, desorganizado.

Isso talvez explique porque Saturday Night exige algo raro do público moderno: contexto prévio. Não se trata de um filme que se basta. Ele pressupõe familiaridade com figuras como Lorne Michaels, Dan Aykroyd e até Jim Henson – este último retratado de forma tão específica que, sem conhecer sua história e personalidade, fica deslocado e tem aparições que podem ser vistas como desconexas e pouco expressivas. 

Por outro lado, há uma inflexão decisiva no terceiro ato. Quando o filme escolhe focar na compreensão do que é exigido dos personagens e, neste ponto em que tudo encontra ressonância, o retrato se completa. O olhar de Reitman deixa de vagar e repousa com precisão em um personagem que merece o centro do palco.

E aqui está a maior qualidade de Saturday Night: quando funciona, ele vibra com verdade. Há beleza na iluminação. Há tensão nas vozes entrecortadas. Há humanidade nos pequenos gestos – um roteiro rabiscado, uma troca de olhares, um silêncio que pesa mais que um grito.

Recomendo o filme, mas com ressalvas. Não espere uma comédia, espere um estudo. Não espere estrutura clássica, espere fragmentos. E, acima de tudo, não vá despreparado. Um mergulho breve no universo do SNL antes da sessão pode transformar a experiência de apenas ver um filme em entender um rito. Como assistir a um balé: você pode se encantar com o movimento, mas entender a coreografia faz tudo ganhar novo sentido.

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