Autor: Lucas Pereira
Publicado em: 03/06/2025
Categorias: #crítica #cinema #filme-brasileiro #filme-nacional
Nota: ★★★☆☆
Letterboxd: Ver a página do filmeQuando vi o trailer de “Novocaine”, não esperava muito. A estética genérica e o enredo aparentemente previsível apontavam para mais um filme de ação destinado a desaparecer entre os lançamentos medianos de cada ano. Mas há uma diferença fundamental entre aquilo que parece formulaico e o que é, de fato, sem alma. E “Novocaine”, com todas as suas imperfeições, tem alma.
A história gira em torno de Nate (Jack Quaid), subgerente de um banco em San Diego, um homem comum com uma condição extraordinária: ele não sente dor. O roteiro, assinado por Lars Jacobson, acerta ao entender que essa peculiaridade não é uma super-habilidade — é uma tragédia silenciosa. Nate vive em um mundo acolchoado, onde cada quina de móvel é uma ameaça invisível. Ele não mastiga comida sólida, não se envolve com o mundo como a maioria das pessoas. E por isso mesmo, é uma figura tocante.
Amber Midthunder interpreta Sherry, sua colega de trabalho e interesse romântico. Sua presença tem uma energia de protagonista de comédia romântica de 2002, e a química entre os dois é a melhor parte primeiro ato do filme com uma doçura incomum para um filme do gênero. Quando o banco é assaltado e Sherry é levada como refém, “Novocaine” faz sua curva dramática. É aí que o filme poderia facilmente descambar para os lugares-comuns do cinema de ação moderno. Mas ele hesita. E nessa hesitação, encontra força.
Jack Quaid constrói um herói com genuína empatia. Não há bravatas nemfrases de efeito — apenas um homem tentando encontrar sua coragem em umcorpo que não responde aos limites naturais da dor. Em uma das primeiras cenas de ação, Nate apanha. Muito. Mas quando usa, pela primeira vez, a sua condição como vantagem, não o faz como um super-herói — e sim como alguém desesperado, disposto a se sacrificar.
Essa abordagem faz de “Novocaine” algo raro: um filme de ação com momentos de verdadeira humanidade. O diretor Dan Berk e o codiretor Robert Olsen parecem cientes das limitações de seu orçamento (meros 18 milhões de dólares, uma ninharia para os padrões hollywoodianos), e fazem escolhas inteligentes. Em vez de grandiosidade, buscam engenhosidade. Em vez de excesso, precisão. O resultado é um filme que, mesmo em suas cenas mais econômicas, respira energia criativa.
Mas há um problema estrutural que o filme não consegue superar. Ao invés de encerrar no ponto certo — em um clímax que funcionaria perfeitamente como desfecho — ele insiste em continuar. E o segundo final, infelizmente, parece desconectado, longo demais, sem o frescor do que veio antes. Algo semelhante acontece no início, que demora um pouco a se encontrar.
Ainda assim, os méritos de “Novocaine” superam seus tropeços. Em um cenário onde filmes de ação se apoiam em efeitos visuais inflacionados e roteiros preguiçosos, este longa prefere algo mais modesto: um personagem bem construído, uma premissa instigante e o prazer de ver ideias bem executadas mesmo com poucos recursos.
Não, “Novocaine” não é uma obra-prima. Mas é um filme que entende o seu protagonista, faz com que ele transforme a sua limitação como ponto forte e constrói, ao redor disso, uma aventura que consegue ser, ao mesmo tempo, engraçada, estranha e interessante. Em outras palavras: um filme bobo, mas bom. E isso, em si, já é mais do que muito filme consegue.
Crítica
Novocaine é uma comédia romântica inusitada, com pitadas de mistério e humor sombrio. Descubra o que torna esse filme tão diferente! Descubra!
Lucas Pereira
@tanoroteiropod
Crítica
O filme que conta a história de vida do cantor Ney Matogrosso é um ótimo exemplo de como o cinema nacional é ótimo. Atuação, direção e música resultam em um filmaço.
Lucas Pereira
@tanoroteiropod
Crítica
O novo longa de Jason Reitman falha em representar o caos do primeiro episódio de SNL (na maior parte do tempo), mas é brilhante na estética.
Lucas Pereira
@tanoroteiropod